sexta-feira, 26 de março de 2004

Aruanda


Fui ao novo show de Rita Ribeiro:

Rita Ribeiro funde sons do terreiro e das pistas
Maranhense mostra de hoje a domingo Tecnomacumba, em que mistura som de atabaques e levada tecno. Show vai render CD ao vivo e DVD
Rita: "o que me seduz é trazer essa cultura do terreiro para a linguagem pop-tecnológica"

São Paulo - O aprimoramento de Rita Ribeiro no palco pode ser medido pelo assombro evolutivo de Jurema, o ponto de umbanda que ela fundiu com levada de dance music no disco de estréia, de 1998. A cada show, a música vem ganhando mais peso e mais força, não apenas pelos arranjos cada vez mais encorpados, mas também pelo impacto visual. Quando Rita evoca a entidade cabocla magnetiza a platéia numa espécie de transe. A partir desse efeito de Jurema, que reflete sua maturidade como intérprete, a cantora maranhense passou a acalentar a idéia de um projeto de show-disco, todo centrado na fusão do som dos atabaques dos terreiros, com timbres eletrônicos e levadas de pop dançante. Assim nasceu Tecnomacumba - O Canto dos Orixás, que Rita mostra de hoje a domingo no Sesc Vila Mariana.

O resultado não é exatamente o que vai cair no gosto de um fã de tecno. "Na falta de melhor expressão para definir meu projeto usei isso. Do universo eletrônico só tenho curiosidade, ainda assim é mais pela tecnologia do que pela música", avisa a cantora. "O que me seduz é trazer essa cultura do terreiro para a linguagem pop-tecnológica." Rita sugere uma associação entre o transe hipnótico dos rituais de umbanda e candomblé e o das pistas de dança das discotecas. "Procurei entender o que, além da religião, produzia essa sensação no terreiro e vi que, primeiro, é a música que está no canto e no batuque e, depois, a dança."

Tecnomacumba vai ser gravado para sair em CD ao vivo e DVD. No repertório estão preciosidades como Domingo 23 (Jorge Ben), Oração ao Tempo (Caetano Veloso), Babá Alapalá (Gilberto Gil), Rainha do Mar (Dorival Caymmi), Iansã (Gil e Caetano), Xangô Vencedor (Ruy Maurity) e Cavaleiro de Aruanda (Ronnie Von), além de Jurema e Moça Bonita (esta do repertório de Ângela Maria), que Rita já havia gravado. Para encerrar há o Tambor de Crioula, dos maranhenses Cleto Junior e Oberdan de Oliveira.


e agora essa música não me sai da cabeça e é meu antídoto nos engarrafamentos da Paulicéia:



Na tina, vovó lavou, vovó lavou
A roupa que mamãe vestiu quando foi batizada
E mamãe quando era menina teve que passar, teve que passar
Muita fumaça e calor no ferro de engomar


Hoje mamãe me falou de vovó só de vovó
Disse que no tempo dela era bem melhor
Mesmo agachada na tina e soprando no ferro de carvão
Tinha-se mais amizade e mais consideração
Disse que naquele tempo a palafra de um mero cidadão
Valia mais que hoje em dia uma nota de milhão
Disse afinal que o que é de verdade
Ninguém mais hoje liga
Isso é coisa da antiga, ai no tina...


Hoje o olhar de mamãe marejou só marejou
Quando se lembrou do velho, o meu bisavô
Disse que ele foi escravo mas não se entregou à escravidão
Sempre vivia fugindo e arrumando confusão
Disse pra mim que essa história do meu bisavô, negro fujão
Devia servir de exemplo a "esses nego pai João"
Disse afinal que o que é de verdade
Ninguém mais hoje liga
Isso é coisa da antiga
Oi na tina...


COISA DA ANTIGA
(Wilson Moreira e Nei Lopes)

Sem comentários: