Toda vez que um filme do eterno trapalhão Didi estréia, me divirto em ver a crítica espinafrando a película.
Mas garanto que continuo achando a mesma graça em Didi e me divertindo mais com ele do que com as críticas.
Garanto ainda que não esqueci a extenda filmografia dos Trapalhões.
E que nunca esquecerei a magia de uma matinê (lotada), com pipoca, balinha e filme de Dedé, Mussum, Didi e Zacarias.
Mas garanto que continuo achando a mesma graça em Didi e me divertindo mais com ele do que com as críticas.
Garanto ainda que não esqueci a extenda filmografia dos Trapalhões.
E que nunca esquecerei a magia de uma matinê (lotada), com pipoca, balinha e filme de Dedé, Mussum, Didi e Zacarias.
Comediante conduz subproduto da relação entre TV e cinema
TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA
Enquanto Didi, o cupido trapalhão do título, tenta aproximar a dondoca Julieta (a apresentadora Jackeline Petkovic) do motoboy Romeu (o cantor Daniel), Renato Aragão, o comediante e empresário que o interpreta, dedica-se à nada angelical tarefa de intermediar e acomodar os interesses envolvidos na produção de seu filme.
"O Cupido Trapalhão" é mais um filme-franchising em que Aragão parece ceder a marca "Trapalhão" para grandes corporações da indústria cultural brasileira interessadas em incrementar o marketing de seus artistas prediletos, suas celebridades pré-fabricadas.
Nesse sentido, e apenas nesse, a nossa indústria cultural parece ter evoluído muito: as novas e efêmeras celebridades de hoje são forjadas com a mesma rapidez e facilidade com que se fabricam os seus corpos. A garota da banheira do Gugu, o pagodeiro sarado, a ex-coelhinha da "Playboy", o ex-vencedor do "Big Brother Brasil", o astro do comercial de tevê, a dupla sertaneja em ascensão: é toda essa geléia geral da "sociedade do espetáculo" brasileira que comparece na festa de "O Cupido Trapalhão", para exibir os seus dotes. Vale tudo por dinheiro.
A tal festa em que Didi, o anjo tornado mordomo, tenta alvejar o casal de protagonistas com a flecha do amor foi encenada, ao que parece, na casa de Aragão. A festa serve de pretexto para a apresentação ininterrupta das diversas e devidamente apadrinhadas atrações musicais da fita.
A estratégia pode lembrar os velhos vaudevilles hollywoodianos, mas o modelo vem mesmo da televisão. "O Cupido Trapalhão" começa como um programa dominical de tevê e acaba como uma espécie de "Casa dos Artistas", em que gatinhas e gatões brincam com seus corpos quase desnudos.
O processo de "essebetização" das produções de Aragão vem de longa data: o comediante da Globo sempre usou em suas produções os artistas apadrinhados pelo SBT, e seus filmes da década de 90, em que se reuniam jovens artistas emergentes para uma espécie de ciranda do amor, podem mesmo ser considerados precursores da "Casa dos Artistas" de Silvio Santos.
"O Cupido Trapalhão" é mais um subproduto da inevitável e cada vez mais umbilical relação entre o cinema e a TV nacionais. Um filme tão limitado quanto o talento dramático do cantor Daniel. Sua encenação de "Romeu e Julieta" com Petkovic lembra mais uma montagem teatral de colégio. E da pior qualidade. Aragão e seu talento de clown veterano atuam, como de hábito, como fiadores dessa inexperiente patota.
Dos primeiros filmes dos antigos "Os Trapalhões" resta apenas a mensagem de congraçamento social, que coaduna muito bem com a trajetória da maioria dos artistas em cena, mas não com o propósito.
TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA
Enquanto Didi, o cupido trapalhão do título, tenta aproximar a dondoca Julieta (a apresentadora Jackeline Petkovic) do motoboy Romeu (o cantor Daniel), Renato Aragão, o comediante e empresário que o interpreta, dedica-se à nada angelical tarefa de intermediar e acomodar os interesses envolvidos na produção de seu filme.
"O Cupido Trapalhão" é mais um filme-franchising em que Aragão parece ceder a marca "Trapalhão" para grandes corporações da indústria cultural brasileira interessadas em incrementar o marketing de seus artistas prediletos, suas celebridades pré-fabricadas.
Nesse sentido, e apenas nesse, a nossa indústria cultural parece ter evoluído muito: as novas e efêmeras celebridades de hoje são forjadas com a mesma rapidez e facilidade com que se fabricam os seus corpos. A garota da banheira do Gugu, o pagodeiro sarado, a ex-coelhinha da "Playboy", o ex-vencedor do "Big Brother Brasil", o astro do comercial de tevê, a dupla sertaneja em ascensão: é toda essa geléia geral da "sociedade do espetáculo" brasileira que comparece na festa de "O Cupido Trapalhão", para exibir os seus dotes. Vale tudo por dinheiro.
A tal festa em que Didi, o anjo tornado mordomo, tenta alvejar o casal de protagonistas com a flecha do amor foi encenada, ao que parece, na casa de Aragão. A festa serve de pretexto para a apresentação ininterrupta das diversas e devidamente apadrinhadas atrações musicais da fita.
A estratégia pode lembrar os velhos vaudevilles hollywoodianos, mas o modelo vem mesmo da televisão. "O Cupido Trapalhão" começa como um programa dominical de tevê e acaba como uma espécie de "Casa dos Artistas", em que gatinhas e gatões brincam com seus corpos quase desnudos.
O processo de "essebetização" das produções de Aragão vem de longa data: o comediante da Globo sempre usou em suas produções os artistas apadrinhados pelo SBT, e seus filmes da década de 90, em que se reuniam jovens artistas emergentes para uma espécie de ciranda do amor, podem mesmo ser considerados precursores da "Casa dos Artistas" de Silvio Santos.
"O Cupido Trapalhão" é mais um subproduto da inevitável e cada vez mais umbilical relação entre o cinema e a TV nacionais. Um filme tão limitado quanto o talento dramático do cantor Daniel. Sua encenação de "Romeu e Julieta" com Petkovic lembra mais uma montagem teatral de colégio. E da pior qualidade. Aragão e seu talento de clown veterano atuam, como de hábito, como fiadores dessa inexperiente patota.
Dos primeiros filmes dos antigos "Os Trapalhões" resta apenas a mensagem de congraçamento social, que coaduna muito bem com a trajetória da maioria dos artistas em cena, mas não com o propósito.