segunda-feira, 30 de dezembro de 2002

Casamentos

ou

Um Post Para Fechar um Ano


Sábado fui a um casamento de um casal amigo.

Muito engraçado como preservamos (ou pelo menos eu preservo) a capacidade de nos emocionarmos com a cerimônia, apesar de tudo e de todos, do senta-e-levanta e do sotaque do padre.


Quando criança, eu era muito requisitado pra desempenhar aquela função que eu nunca sei o nome, mas que, enfim, se resume a carregar as alianças.

Lá pelos meus 6 ou 7 anos, uma tia ia se casar. E lógico, queria o sobrinhozinho lindo para a função.

Lá me fui. Sábado de chuva. Eu na frente, com as alianças em um prato; um casal de primos atrás.

No altar, fiquei segurando o prato com todo o vigor por uns minutos. Mas depois de muitos juros, discursos e conversa do padre, não aguentei mais e passei a equilibrá-lo em uma das laterais da mesa.

Num dado instante, perdi o apoio e o silêncio da igreja foi quebrado por aquele barulho tenso de alumínio quando cai ao chão. Tinha deixado o prato cair. As alianças se perderam no meio dos tapetes.

Como acordando de um sono profundo, só conseguia olhar minha vó de joelhos, procurando apressadamente localizar as alianças e reduzir a gafe.

Mas, enfim, casamento, mesmo com algo inusitado assim é sempre bom.

Antes que me perguntem: o meu não há de demorar. O mais difícil já tenho: a escolhida.

O resto são apenas detalhes. (Ou seriam detalhe$? hehehe.)

Mas já até recebi manifestações públicas dos primeiros voluntários à padrinhos: Titio & Titia.

Hehehe.

"Quem ama quer casa
Quem quer casa
Quer criança
Quem quer criança
Quer jardim
Quem quer jardim
Quer flor
E como já dizia Galileu:
Isso é que é amor"

Jorge Ben - Caramba...Galileu da Galiléia


Um bom post pra fechar o ano, né?

Querendo acreditar que 2003 há de ser bem melhor que 2002 esteja onde eu estiver.

Vou lá encomendar minha cueca multicor (porque não há o que não precise no próximo ano: saúde, amor, dinheiro, paz...), "pingar meu colírio alucinógeno" e "andar com fé eu vou que a fé não costuma falhar".

Tudo de bom pra todo mundo.


Feliz 2003!

quarta-feira, 25 de dezembro de 2002



Não lhe peço nada
Mas se acaso você perguntar
Por você não há o que eu não faça
Guardo inteira em mim
A casa que mandei
Um dia
Pelos ares
E a reconstruo em todos os detalhes
Intactos e implacáveis
Eis aqui
Bicicleta, planta, céu,
Estante cama e eu
Logo estará
Tudo no seu lugar
Eis aqui
Chocolate, gato, chão,
Espelho, luz, calção
No seu lugar
Pra ver você chegar


terça-feira, 24 de dezembro de 2002






Hi-Hi-Hi!


Como o Papai Noel faz?

"Hô-Hô-Hô!"

E a Mamãe Noel?

"Há-Há-Há"

Minha sobrinha, 3 anos

domingo, 22 de dezembro de 2002

Newspaper

Duas coisas me chamaram atenção na leitura da Folha de ontem:

Amor Correspondido - Livro reúne cartas passionais de Caio Fernando Abreu (1948-1996)

Com 36 anos incompletos, Caio Fernando Abreu setenciava em correspondência a um amigo: "Na minha lápide, quero alguma coisa mais ou menos assim: 'CaioF. que muito amou'.".

E o Meu Horóscopo:

Agora você terá de aguentar o trajeto sozinho(...). É uma viagem em meio a terreno pedregoso. Fundamental exercício de paciência, que extrairá de você a percepção de quem é e para onde vai.

Obs: Tudo isso porque o Sol ingressa em Capricórnio, signo anterior ao meu, Aquário. Hehe!

sábado, 21 de dezembro de 2002

Melhor Remédio



Eu e minha pequena fomos na sessão-extra do espetáculo Cócegas, que aconteceu às 18 horas de hoje, dado à lotação prévia da sessão das 21.

Só digo uma coisa: rir é bom à beça.

As esquetes são hilárias. Além da já consagrada adolescente, alguns quadros são imperdíveis, como o da pastora.

A sintonia entre as atrizes é perfeita.

Muito, muito bom.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2002

São Paulo - Esse Pê


Estou de volta. Passei o fim de semana, em São Paulo, cumprindo as minha última parada este ano na novela da Residência.

Pude olhar a cidade por ângulos que eu nunca havia experimentado, pois em São Paulo sempre estou: ou apressado, ou de passagem.

Cidade curiosa, que ao mesmo tempo parecem muitas. Talvez muitas irmãs, todas filhas de uma mãe nordestina.

Fui muito bem recebido, fiz a prova, andei de metrô, tomei chuva. Não necessariamente nessa ordem, ôrra meu.

Ainda comprei um cd pirata do Acústico do Kid Abelha na Praça da República, por 1 real. Mas, previsivelmente, não toca nada. Tinha um game de futebol ou coisa parecida. E a goleira não era a Paula Toller.

Como ainda sobrou 1 passagem de metrô, quem sabe eu volte pra trocá-lo.

No meio de tudo isso, um amigo sumiu. Ou talvez nunca tenha existido. Não sei.

O bom é que por hora estou tranquilo, aguardando o que vem a seguir, mas com a certeza de que seja o que for, há de ser bom.

Beijinho pra você que lê meu querido e pequeno Gui.

Feliz Natal!

quinta-feira, 12 de dezembro de 2002

Thank's, Zeca!

A versão oficial

Zeca baleiro adiado
A produção do show de Zeca Baleiro anunciou o adiamento do show que o cantor faria amanhã no Teatro Rio Vermelho. Nova data está sendo agendada para março do ano que vem. Segundo os produtores, o show perdeu um dos patrocínios prometidos, o que inviabilizou o plano de mídia do espetáculo. Fãs do cantor que já haviam adquirido o ingresso poderão voltar hoje à bilheteria do teatro para obter a devolução do dinheiro.


A versão dos bastidores

Comunicado da minha ausência da cidade, por motivos provo-residênticos, Zequinha se negou a fazer o show.


Hehehe...esse excesso de provas não está me fazendo bem...

quarta-feira, 11 de dezembro de 2002

...coisa pra se guardar do lado esquerdo...



Session Start (MSN): Fri Dec 06 11:54:53 2002

Eu: e como eu vou saber quem é vc?
Jeff: Às 04:30, só tem um idiota esperando uma mula de goiânia na rodoviária.


E realmente, ele estava lá, às 4:30 de uma madrugada de segunda-feira, pronto pra me receber e me oferecer panetonne com Pepsi Twist às 5:30 da manhã.

Obrigado por tudo, Jeff

'winter, sprig, summer or fall
all you got do is call"
céu + mar



No final do show, eu era uma das 1.500 pessoas que, de pé, aplaudiam Ceumar até doer as mãos, pedindo sua volta ao palco. Afilhada musical de Zeca Baleiro, que lhe forneceu a maioria das músicas do excelente repertório, não sei como definir essa artista de apenas um CD (?Dindinha?). Tentei enquadrá-la em algum lugar-comum do showbizz, mas não consegui, ela escapa. Não é cantora ?mineira?, regional, não é MPB, não é pop, não é rock. Há algo nela do ?interior? que se mantém preservado da contaminação dos modismos - um gosto de refresco que não levou aditivo químico. Quando, por exemplo, resolve esticar a voz, ir esticando como se fosse uma corda de instrumento, ela, a voz, vira um fio de harmonia pura e cristalina. Se vocês só ouviram falar de céu e mar, mas não de Ceumar, não perdem por esperar.


Zuenir Ventura


segunda-feira, 9 de dezembro de 2002

quinta-feira, 5 de dezembro de 2002

a lista interminável que só cresce

Em "Pietá", Milton retribui Elis Regina e dá voz a sua filha

maria, maria


PEDRO ALEXANDRE SANCHES
ENVIADO ESPECIAL AO RIO DE JANEIRO

Um ciclo mítico se fecha em "Pietá", novo álbum de Milton Nascimento. Em 1966, Elis Regina (1945-82) foi a primeira artista a dar visibilidade à sua música, gravando "Canção do Sal". Desde então estiveram para sempre ligados musicalmente. Hoje Milton, 60, dá o troco e se torna o primeiro a dar voz, em disco, à filha caçula de Elis, Maria Rita Mariano.
"Estive pouquíssimas vezes com Rita na vida, e de repente ela me apareceu com um CDzinho, pedindo para eu dizer o que ia ser da vida dela. Acho que há o dedo de Elis aí. Foi a pessoa que me lançou, eu agora sou uma espécie de Elis da Maria Rita", ele justifica.
Arredia a entrevistas até aqui, Maria Rita, 25, fala e confirma a empatia mítica entre os dois: "Ele diz que só me viu quando eu tinha três anos, mas tenho outra lembrança. Lembro-me dele em casa com meu pai [o músico Cesar Camargo Mariano], e eu, muito tímida, indo pedir autógrafo. Sempre me senti ligada a Milton. A primeira música que lembro ter ouvido e me tocado na vida é "Bola de Meia, Bola de Gude'".
Maria Rita canta em duas faixas de "Pietá", assim como duas outras intérpretes que Milton pretende desvendar num projeto de homenagem às vozes femininas.
Assim como Maria Rita, a mineira Marina Machado, 30, e a paulista Simone Guimarães, 36, receberam duas canções cada para dividir com o padrinho. Juntas, as três se unem ainda na canção final do CD, "Vozes do Vento".
A excitação da visibilidade que Milton pode lhes proporcionar coloca as moças à flor da pele. É o que acontece quando falam da discrepância de Marina e Simone estarem há mais de década na estrada, com vários discos lançados, e de ser a filha de Elis que desperta curiosidade prévia e instantânea.
Maria Rita (que perdeu a mãe aos quatro anos e estudou dos 16 aos 24 no exterior) enfrenta a delicada situação: "Não posso me culpar por isso. Se fosse filha do Fernando Collor, fugiria do país. Mas minha mãe nunca fez mal a ninguém. Já caio de balão no centro desse negócio, e estou crua, totalmente. Gravando essas músicas, choro. Não estou trabalhada".
"Por opção fiquei em Belo Horizonte, de onde é mais difícil ser vista pelo Brasil todo. Mas vejo que quanto mais alimento minha arte mais tenho ganhado em troca", afirma Marina, as lágrimas correndo pela face. "Só agora começo a tomar consciência do que está acontecendo. Nunca imaginei que ia chegar perto de pessoas assim, como Milton e a filha da minha cantora predileta."
Maria Rita completa: "Poderia achar que tenho um diferencial, mas para mim o fundamental foi o momento em que eu me descobri cantando e me apaixonei por isso, sozinha. Estou fazendo, indo, tentando recuperar o tempo vivido numa outra situação".
Agora estão no rosto de Maria Rita as lágrimas que correm. Simone, os olhos brilhando, fotografa seu choro. "Sou bem paparazzo", brinca.

Maria Rita Mariano durante encontro com Milton, Marina Machado e Simone Guimarães, que formam o núcleo do álbum

Projeto concede espaço às novas gerações musicais

DO ENVIADO AO RIO

"Pietá" não é só um disco de homenagem às vozes femininas que formaram Milton Nascimento, desde a de sua mãe adotiva, Lília, até as de Angela Maria e Elis Regina. Assemelha-se aos projetos coletivos "Clube da Esquina" (72), "Clube da Esquina 2" (78) e "Angelus" (93), mas agora predominantemente com artistas jovens.
Nele Milton apadrinha, sucessivamente, cantoras, compositores (Flávio Henrique, Chico Amaral, Telo Borges, Bena Lobo -filho de Edu Lobo-, Wilson Lopes, Elder Costa, Bruno Nunes etc.) e músicos (Gastão Villeroy, Samuel Rosa -do Skank-, Lincoln Cheib e outros).
Eles convivem com vários membros originais do clube da esquina, como Lô Borges, Márcio Borges e Fernando Brant. O hoje internacional Eumir Deodato, primeiro arranjador com quem Milton trabalhou, está presente.
"Eu queria chamar Björk para também cantar no CD, porque ela gosta de "Travessia" na voz de Elis e por isso chamou Eumir para trabalhar com ela. Björk não pôde, porque estava grávida, mas imediatamente veio a idéia de trazer Eumir", conta Milton.
Se o projeto ambicioso esteve ameaçado de não acontecer, foi por conta das dúvidas de Maria Rita Mariano, como sublinham Marina Machado e Simone Guimarães. "Milton achava importante ela participar, por causa da Elis e porque se apaixonou por Maria Rita", afirma Marina. "Acho que não haveria o disco se ela não topasse", diz Simone.
Milton confirma: "Eu já queria trabalhar com Marina e Simone, mas foi quando ouvi Rita que a idéia toda do disco me veio".
Maria Rita não nega o suspense que provocou. "Ele me convidou dizendo que eu tinha toda liberdade de dizer não, mas que não haveria o disco se eu não fosse", ri. "Hesitei, por razões até óbvias. Fiquei com muito receio no início."
Ela diz que seu receio não se resume ao caso Milton: "Estudei comunicação e estudos latino-americanas nos Estados Unidos e fui contra ser cantora por muito tempo. A vontade aparecia e eu dava uma cacetada no monstrinho. O monstro acordava, eu dava um pau. Mas ao fazer um trabalho de faculdade sobre direitos autorais escolhi "Coração de Estudante", e não consegui terminar a apresentação, porque caí em prantos."
Voltou ao Brasil e passou a fazer experimentos secretos com música, até neste ano estrear cantando poucos números em shows do amigo Chico Pinheiro. "No momento em que subi ao palco, as dúvidas todas sumiram", relata.
Sua experiência musical é, então, intuitiva e não técnica, no que difere das duas colegas. Marina, também atriz, estudou canto lírico; Simone, apaixonada por Milton desde a adolescência, frequentou a escola livre de música que ele tinha em Belo Horizonte.
Milton afirma que não pensou em Elis ao entregar "Tristesse" a Rita, embora o estilo da canção vá fatalmente suscitar recordações. E a herdeira tem de encarar a questão da influência, sempre aflitiva à numerosa geração de filhos que vem ocupando a nova MPB.
"Tinha 4 anos quando ela morreu. O que conheço de Elis é o que todos nós conhecemos, de fotos, vídeos, gravações. Ouço suas músicas quando estou triste, ou quando estou extremamente feliz. Tenho saudade, sinto falta. Mal convivi com ela, e meu pai às vezes diz: "Ih, está fazendo a cara da Elis". Não sei até que ponto as semelhanças são intuitivas ou não."
Fala, enfim, de uma das músicas que Milton lhe destinou, "Voa, Bicho". "Ouvi, ouvi, ouvi e pensei: "Meu Deus, o que vou fazer?". Aí um amigo ouviu comigo e disse: "É você. O bicho é você. Voa!". Aí voei". O bicho está solto. (PAS)

CRÍTICA

Álbum é mesmo dos jovens, Maria Rita à frente de todos
DO ENVIADO AO RIO

É de incomum nobreza o gesto de Milton Nascimento de se encolher em "Pietá" para dar vazão a toda uma gama de artistas jovens, muitas vezes díspares uns dos outros.
O gesto bate e volta no próprio Milton, que há muitos discos e shows não exibia o vigor criativo que aparece aqui, não só em canções da moçada, mas também em parcerias clássicas como a da fina "A Feminina Voz do Cantor" (dele com Fernando Brant).
Mas não é hora de esses ocuparem a boca de cena. "Pietá" é mesmo dos jovens, como fica claro já de início, na corpulenta "Casa Aberta", cantada com Marina Machado e co-composta pelo parceiro dela Flávio Henrique.
E, sem que isso implique demérito a Marina e Simone Guimarães, Milton sabe perfeitamente o quilate do que segura agora pela mão. "Pietá" poderia atender pelo nome de Lília, Ângela Maria, Elis, "Maria, Maria" (canção dele que Elis eternizou). Mas não, ela se chama Maria Rita Mariano.
Milton sabe que deu duas canções sensacionais à afilhada. "Tristesse" (dele e de Telo Borges) tem impregnadas em seus poros dor e saudade de alguém que se foi. "Voa, Bicho" (de Telo e Márcio Borges) desvela alegremente libertação, como se o "Assum Preto", de Luiz Gonzaga, fosse solto da gaiola em chão mineiro.
Em Maria Rita, são cantadas com a força emotiva certeira de Elis e sem a carga dramática excessiva de Elis; com a sinceridade que Elis sempre desfibrou e com a leveza humorada que Elis nunca alcançou. Há algo novo no ar, e não são os aviões da Panair.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)

Pietá
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(quatro estrelas)
Artista: Milton Nascimento
Lançamento: Warner
Quanto: R$ 27, em média


Fonte: Folha de São Paulo




Cuma?

Acompanho minha mãe numa loja de móveis. Ela procura uma nova cama da csal.

A vendedora prestativa enumera as qualidades de cada modelo, até que:

"Essa aqui é bem forte. Essa aguenta o batidão!"

Batidão? Como assim, dona?
e tudo nascerá mais belo
o
verde faz do azul com amarelo
o elo com todas as cores
pra enfeitar amores gris


nem um dia - djavan
sugar




- "Por que você quer se casar comigo?"
- "Pra eu poder beijá-la quando quiser."


Esse é um dos trechos de Doce Lar, mais um conto-de-fadas hollywoodiano, e como tal, inverossímel. Mas que vai fazer bem aos que como eu se divertem com igualmente inverossímel novela das seis, Sabor da Paixão.

terça-feira, 3 de dezembro de 2002

.
A entrevista



E eu que imaginava que um dia eu ia sentar pra ser entrevistado por uma Marília Gabriela, por exemplo, e ia me dar um nervoso de não saber o que dizer, de tentar parecer inteligente e não conseguir, de tentar parecer seguro e gaguejar.

Ou então com o Jô e ele podia me massacrar que nem só ele sabe fazer com seus entrevistados, enquanto o ego infla, infla, infla, infla e POU!

Podia até ser mais modesto. Uma entrevista com a Clodovéia, que ia me mandar olhar pra lente da verdade.

Pois é.

Hoje isso tudo ficou pra trás.

Nessa minha luta insana por uma vaga de Residência Médica, encarei uma entrevista com cinco professores simultaneamente.

Pois é.

Sobrevivi.

E agora, tudo me parece tão simples e aviso a Jô, Gabi e Clodovéia que aguardem, porque minha agenda, por hora, reserva novas aventuras nessa luta que continua e continua.


O papagaio de hum milhão de dólares


Ontem estava vendo a capa da Veja, quando me lembrei que sou da época da inflação galopante, monstruosa e horripilante.

Tentando buscar inspirações para uma maldita entrevista que aconteceria no dia seguinte, me lembrei de uma história que aconteceu aqui em casa há uns 10 ou 12 anos...

Meu pai tem um incrível fascínio por aves. Mas as tentativas de manter um papagaio em casa, alfabetizá-lo e ensiná-lo a cantarolar o hino nacional sempre foram infrutíferas.

Meu pai não desistia. E sempre manifestava seu desejo de ter um papagaio.

Num domingo que eu não lembro se era de sol ou chuva, uma vizinha da casa da minha vó liga. Havia uma vizinha sua que estava colocando o papagaio à venda. E era dos bons o bicho, dizia ela. O preço, perguntava meu pai. Apenas 1000 cruzeiros. Mas só 1000 cruzeiros? É, ela falou que é mil que ela quer.

A velha senhora ficou meio confusa, mas confirmou que seriam mil mesmo. Duas notas de quinhentos cruzeiros.

Meu pai lhe dizia que era muito pouco, quase um troco.

Mas ela retrucava que um milhão de cruzeiros não poderia ser, pois era muito dinheiro por um reles papagaio.

Meu pai se entusiasmou.

Pediu que eu acompanhasse meu irmão mais velho à casa da fulana e fizesse a compra do verdinho. Lá fomos nós, véspera do almoço, com 1000 cruzeiros na carteira.

Chegamos.

As donas no papagaio nos receberam com estranha euforia.

E faziam um marketing danado da criatura: sabia dançar, cantar, assoviar.

E não dos dava tempo nem para uma palavra sequer.

Punham o papagaio pra se exibir.

Colocavam o Cd do Genival Lacerda que ele adorava.

E disparavam dicas de como cuidar bem da coisinha.

Gentis, já foram colocando um saco de ração no nosso carro.

Era a ração preferida dele.

Mais vinte segundos, e já haviam empacotado o papagaio.

Comovido com tanta benevolência, meu irmão estendeu às moças a fabulosa nota de mil cruzeiros.

...
...

Parecia que um furacão havia por ali passado.

A ração voltou pra a mesma lata onde estava.

O papagaio ganhou liberdade.

"A gente quer é 1.000.000 pelo papagaio."

Hum milhão de Cruzeiros? Carambola!

"O Seu Valter, advogado, já ofereceu 800.000 pelo bichinho, mas a gente não aceitou."

Não conseguia controlar minha vontade de rir. Voltamos até em casa gargalhando... E avisando: "Pai, o papagaio de 1.000.000 de cruzeiros não pode vir."

Que terá sido feito do bichinho?

Não tive mais notícias.

Da inflação, pensei que também tinha esquecido desse tempo em que zeros à direita ou à esquerda tinham o mesmo valor, mas agora o preço da gasolina, da naftalina, da nectarina e do suco de tangerina me fazem embarcar no túnel do tempo.

Acenda a lamparina.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2002